quinta-feira, 15 de novembro de 2007

ARTIGO: MÚSICA DE RAIZ X MÚSICA SERTANEJA




MÚSICA DE Raiz X música sertaneja

Mara Rúbia Ribeiro – Historiadora
( Artigo publicado no Jornal Correio – Uberlândia – 12/06/1999)
Na época integrante do NEHAC – Núcleo de Estudos em História, Arte e Cultura – UFU –MG



“Pena Branca e Xavantinho usam linguajar próprio de “causos” que fazem parte do imaginário do povo do interior”


Existem dois tipos de cultura: a fabricada pelos meios de comunicação de massa e aquela que existe independentemente de nossa vontade e que está impregnada de crenças, costumes, sabedorias, modos de pensar e agir de nossos antepassados. A esta última chamamos de cultura raiz.
O mesmo acontece com a música. Observamos a trajetória por que passou a sertaneja “ de raiz”,”lá da roça”, até transformar-se na música sertaneja dos grandes centros urbanos.
Exemplos dito em nossa região são as músicas de Tião Carreiro e Randel, Pena Branca e Xavantinho, entre outros, que se expressam em forma de música, fazendo uso de um linguajar simples e próprio da cultura, de “causos” que aconteceram ou fazem parte do imaginário, do sentimento, dos desejos de um povo do interior de Minas Gerais onde o cerrado fazia parte do cotidiano de cada um.
Muitas pessoas se lembram ainda dos “causos” contados pelos avôs “a beira do fogão de lenha quando chegava a noite. Um “golinho” de café com pão de queijo acompanhando ou mesmo a “marvada caninha”. “Causos” estes, muitos das vezes, que se transformaram em músicas que, além de servirem para o “arrasta-pé”, contam um pouco da memória do lugar.
Mas o tempo foi passando. As crianças crescendo, precisando de estudo e trabalho. As pessoas largando suas “vidinhas” na roça e indo de encontro “a cidade grande. Tudo diferente. Também a música é diferente. É uma nova música “caipira” ou neo-sertaneja, como dizem alguns, que surgia.
Já não tem mais a pureza da voz, da viola e da sanfona. É uma música transformada em algo que foi se degenerando. A viola vira guitarra, a sanfona é trocada pelo teclado e a percussão natural lá do mato (os coachos dos sapos, o barulho das águas, o cantar dos grilos) vai sendo trocada por uma percussão artificial, feita por instrumentos sofisticados.
A indústria cultural transformou algo com brilho natural em algo parecido, mas não igual ( na verdade bem diferente). Mas a industria cultural está cumprindo seu papel, absorvendo o que era íntegro e transformando-o em condições aceitáveis aos grandes centros urbanos, na tentativa de agradar a “gregos e troianos”. Uma música “sertaneja “ de cidade, com instrumentos elétricos, é um produto para ser aceito no mercado de consumo.
Mas no fundo, no fundo, quem conheceu a verdadeira música sertaneja, a chamada “caipira”, aquela dos tempos de nossos avós,percebe que ela é a verdadeira raiz cultural do povo que, apesar das transformações e do progresso, deixa saudades...

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